Uma pausa para acertar o compasso
Começa pela letra éme, mas não é de todo associada ao nome deste espaço. Mesmo assim, não deixa de fazer parte de mim, de ti, de tudo e de todos. Falo da morte.
Como encará-la?
Como consolar a tristeza que nos deixa?
Quanto tempo demora a sarar as feridas que causou?
Onde descobrir as razões, os motivos?
São muitas as questões e poucas as respostas. Quero acreditar que todos os acontecimentos incorporam, pelo menos, um motivo. Só assim podemos transformá-los em aprendizagens. Mas, por vezes, dói demasiado ir em busca dos porquês. Porquê naquele momento, àquela determinada pessoa e da forma como sucedeu...?
A morte é o nosso pior pesadelo, embora não seja mais do que um facto difícil de aceitar. Preferimos evitar, tentamos esquecer e até negar. Dizem que nestas situações o nosso próprio cérebro utiliza a negação como mecanismo de defesa, para sofrermos menos. Assim conseguimos seguir o nosso caminho, continuamos a mover-nos em círculos, como a Terra faz metódica e incansavelmente há tantos milénios.
Gostava de ser mais crente, de celebrar a morte alegremente, como uma passagem e não como um fim. Talvez um dia venha a ter provas. Enquanto isso, permaneço atenta.
Faço uma pausa e reconheço que são muitas as coisas que me encantam nesta realidade onde vivo, a começar pelas amizades verdadeiras e duradouras e pelo mar sempre tão tranquilizante. Quanto às realidades onde já não posso regressar fisicamente, arranjo forma de as transportar comigo, envolvidas em gratidão, amor e saudade. Porque a morte só é mesmo definitiva a nível físico, nada mais. Posso não ter ainda todas as respostas, mas para já, é suficiente.
Prossigo num compasso ainda meio desajeitado e aleijado, mas preparado para recomeçar mais uma volta.
Ericeira, Junho 2018.