Balanço e balanço
Sentada no baloiço do tempo: balanço, balanço e volto a balançar. Penso no ano que termina e concluo que neste ano cabem dois. O tempo é relativo, não era o que Einstein dizia? É que em Dezembro de 2019 a vida era drasticamente diferente. Se eu falasse com a Mariana que foi passar o Natal à Suécia, dizia para aproveitar a viagem. Não a viagem de avião de regresso, não, não. A viagem louca dos dois anos seguintes! Contado, toda a gente acredita. Todos viveram, à sua maneira, uma Pandemia Mundial que veio alterar a nossa rotina e as nossas relações. A casa passou a escritório, os amigos passaram a ecrãs luminosos, sobre isto já para aqui escrevi. Depois, relações esmoreceram, outras ficaram fortalecidas e outras foram surgindo de mansinho. 2020 terminou mais promissor, com aquilo que era novo a ser o novo normal. 2021 começou com um novo confinamento, desta vez com um impacto mais amortecido. Vieram os encontros aos sábados, às onze da manhã, nos quiosques mais desertos. Quando batia a uma da tarde, a cidade morria e os teimosos como eu continuavam a viver da maneira possível ou impossível. Veio o trigésimo aniversário em modo piquenique, porque ainda não podíamos festejar em restaurantes. Veio a vacina e com isso um verão muito mais agradável. Veio a consolidação das relações e as viagens por Portugal, de Sul a Norte - sim, a ordem foi esta. Nunca percebi porque é que o Norte tem de vir sempre primeiro na ordem dos pontos cardeais. Conheci aldeias novas, deslumbrei-me com cascatas e grutas. Veio o primeiro casamento do meu grupo de amigos, uma festa sem igual. Voltaram as excursões de fim-de-semana pelos recantos da Lisboa que ainda não conheço, ou que já não conheço. Veio uma mudança de trabalho, para algo que já desejava muito antes de ir para a Suécia passar o Natal em 2019. Regressou o frio e a chuva, mas esteve sempre quente do lado de dentro das paredes. Como se o frio de Lisboa não fosse suficiente, ainda fui até ao Porto, passear de gorro e de mão dada. O Natal passou-se com o essencial e por vezes o essencial são as poucas pessoas que me fazem sentir bem quando penso nelas antes de adormecer. Sou menina do verão, assumo, mas sabem lá vocês o bem que me soube ir à praia em pleno dezembro com o céu azul a perder de vista... ou os beijos apaixonados ao luar, envoltos na lã macia dos cachecóis. Baloiço enquanto faço este balanço e sorrio de olhos fechados. Sem ter entrado num avião, viajei até sítios que a Mariana de 2019 estava longe de imaginar.