Já passaram cinco semanas
C(o)rónicas de Quarentena #4
Lembram-se quando vos contei aqui que estava em casa há duas semanas?
Já se passaram cinco. Podia dizer-vos que estou transformada numa pessoa melhor e que estou altamente produtiva e criativa. Afinal não é isso que as frases bonitas que vemos por aí pregam todos os dias? Eu adoro ser positiva e esperançosa mas antes disso gosto de ser verdadeira e não tenho acordado todas as manhãs a sentir-me espetacular, não senhora.
Vamos aos updates.
Toda a rotina de desinfectar está mais fácil, mais automática. É que para além das minhas mãozinhas, tenho 4 patas caninas para limpar várias vezes ao dia. Ou seja, cada vez que entro em casa, preciso de desinfectar imediatamente não duas, mas seis patas. O meu cão, apesar de continuar com um ar muito confuso, lá vai colaborando.
Ir ao supermercado, apesar de continuar a ser um filme, é a coisa mais próxima de uma vida normal fora de casa que tenho, por isso já tolero melhor. Quase me atrevo a dizer que gosto.
Aprendi a desligar da maioria das notícias e principalmente dos números. Sabem que em Portugal morrem por mês 400 pessoas com pneumonia? Pois. A falta de conteúdo e excesso de alarmismo faz com que fiquemos impressionados com números que já existiam antes desta pandemia. Pesquisem sobre isto e garanto-vos que vão ficar supreendidos. Não estou a desvalorizar a situação, só que pessoalmente dispenso ser bombardeada com isto a toda a hora, os primeiros 10 minutos do telejornal da noite são suficientes para me manter informada.
Tenho meditado e sinto-me tranquila, de um modo geral. Não significa que consiga ver uma temporada de Casa de Papel de enfiada (vi em 4 dias). Continuo a ter bicho carpinteiro que me impede de fazer longas maratonas em frente a um ecrã.
Conquistas? Também há!
Tenho cozinhado mais. Já fiz um bolo tão bom que foi dividido em pequenos quadradinhos para durar o máximo possível. Ainda durou uma semana, palmas para mim!
Estou a gostar mais de plantas. Pouco ou nada ligava às que tenho na minha varanda, mas agora começo a apreciar e gosto de acompanhar o seu crescimento. Tenho um vaso de orquídeas que estão quase, quase a nascer e é mesmo giro ver a evolução diária.
Voltei a pegar na minha velha amiga guitarra, de quem tinha milhões de saudades. Toquei até ficar com calos nos dedos da mão esquerda (entendedores entenderão).
Li mais um livro em inglês, algo que queria fazer com mais frequência este ano. Talvez escreva sobre ele, em breve.
Tenho pairado aqui pelo Letra Éme mais vezes que nos últimos seis meses.
Agora, as partes menos boas...
Abril é o meu mês. É o mês dos aniversários, das festas, das surpresas, do convívio com as pessoas. Por isso custa estar longe, claro que custa, era mau sinal se não custasse.
Sinto que as videochamadas são sempre curtas demais, tenho saudades de falar com as pessoas sem horas marcadas e sem perguntar 39 vezes se me vêem/ouvem bem. Enfim. Todos fazemos o nosso possível e fico feliz por continuar a ter quem ature as minhas parvoíces dia após dia, semana após semana.
Não é possível estarmos super felizes e produtivos a toda a hora. Haverá momentos em que um mês parecem dez e parece que nada acontece. Haverá momentos em que somos assombrados pela impotência do agora e pela incerteza do futuro. Gosto de pensar que enquanto houver aspetos positivos a somar à equação, valerá tudo a pena, mas há dias em que é verdadeiramente difícil e assustador.
Identificam-se com alguma destas coisas? Como está a ser, desse lado?
Desejo-vos a continuação de uma quarentena o mais sã possível, com todos os altos e todos baixos, porque é importante aceitarmos esta dualidade. Obrigada também a quem tem vindo aqui deixar os seus comentários, são sempre bem-vindos!