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Letra Éme

uma série de devaneios meticulosamente desordenados

Letra Éme

uma série de devaneios meticulosamente desordenados

Uma Educação - Tara Westover // Opinião

M., 15.09.19

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O que é a Educação? De que forma é que pode influenciar-nos ao longo da vida? Pode haver mil e uma respostas a estas questões, mas garanto-vos que vale a pena conhecer as de Tara Westover.

Uma Educação é a história de uma menina que nunca foi vacinada, não tinha certidão de nascimento e só entrou numa escola aos 16 anos de idade. Tara cresceu no seio de uma família numerosa, empreendedora e imensamente agarrada às suas ideologias, que vão muito além da religião - o Mormonismo.

Devo dizer que gostei muito da abordagem à religião. Logo no início, existe uma nota a alertar que este livro não é sobre religião, porque na verdade o problema não é a religião mas sim o modo como as pessoas a vivem. Senti até um certo carinho dela para com a religião. Numa das várias entrevistas que vi após ler o livro (porque é simplesmente impossível não querer saber mais sobre esta pessoa), Tara é desafiada a cantar e a canção que escolhe é um hino mórmon. Durante os segundos em que canta podemos observar expressão de tranquilidade, como se estivesse a revisitar boas memórias, o que me faz crer que ela tem uma relação de amor e não de ódio com a religião. Vindo de alguém que teria vários motivos para se revoltar, esta atitude é de louvar! 

Voltando ao  livro...

Os relatos reais e muito detalhados narrados pela voz de uma criança enriquecem sobremaneira toda a experiência de leitura, tornam a história mais autêntica, faz-nos sentir a ingenuidade de uma Tara-menina que achava natural trabalhar horas a fio numa sucata, correndo risco de vida. Embora a sua intuição muitas vezes dissesse que era perigoso fazer certas coisas, como manobrar máquinas perigosas sem nenhuma proteção, ela continua a fazê-lo, pois vê no pai a autoridade máxima e acima de tudo sabe que ele a ama.

A partir do momento em que Tara entra na Faculdade, as descrições ficam cada vez mais sucintas, o que me desiludiu um pouco, já que era a parte que eu mais ansiava: aquele momento em que os contrastes se revelariam, com a vida nova num mundo desconhecido (noutro Continente, até!). Estes episódios são frequentemente interrompidos pelos vários regressos a casa, onde continuam a acontecer coisas insólitas. É bem visível que a autora dá muito mais relevância aos relatos da vida em Idaho, junto à montanha de Bucks Peak, num ambiente dominado por crenças apocalípticas, violência, preconceito, maxismo… Um ambiente que a marcou para sempre, contudo, sem a demover das suas ambições.

Não foi preciso muito para Tara querer começar a estudar e ir mais além. Foi preciso um irmão mais dado aos estudos para ela perceber que existia essa possibilidade, mas o resto do caminho foi ela que traçou. Somos inevitavelmente formatados pelas pessoas que nos são mais próximas e pelo ambiente em que crescemos. No entanto, nada é mais forte do que a força de vontade, este testemunho é mais uma prova disso.  Se esta pessoa conseguiu, mesmo vivendo naquele lugar recôndito, com um pai fanático, uma mãe submissa e um irmão violento… Sinceramente, acho que temos lições valiosas a retirar daqui. Quantos de nós não deixamos de fazer o que queremos com medo de desiludir as pessoas mais próximas? Ou porque acreditamos que "é assim a vida"?

Quando sentirem que não têm opções em qualquer situação que seja, pensem neste exemplo incrível, leiam o livro, reflitam. Esta mulher pegou no seu desconhecimento completo do mundo, para além das montanhas que rodeavam a sua casa, para se doutorar em História pela Universidade de Cambridge. É um exemplo de determinação, ambição e coragem.

Se ficaram curiosos, podem espreitar as primeiras páginas aqui. You’re welcome ! :) 

Os Anagramas de Varsóvia | Opinião

M., 09.11.18

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Para Erik Cohen, o inverno de 1940 foi o mais frio e doloroso de todos. Vivia-se, e principalmente morria-se, em pleno Holocausto. Esta história acontece no gueto judaico de Varsóvia, o maior da Polónia, onde foram enclausurados cerca de 380 mil judeus. É neste contexto que Erik se vê forçado a partilhar um apartamento com a sua sobrinha Stefa e o sobrinho-neto Adam. De início, sempre contrariado, era visto como o tio velho e rabugento. Porém, pouco tempo depois Erik rende-se ao doce Adam, um rapaz vivaço, inteligente e bondoso que trazia alegria aos dias duros que se viviam. Até ao dia em que...

 

Os meus livros em 2017 // Parte 1

M., 08.01.18

Já estamos em 2018 e Ano Novo que se preze vem cheio de retrospetivas do seu antecessor. Como tal, deixo-vos aqui a primeira parte dos livros que li em 2017, de forma resumida e por ordem cronológica, como manda o calendário. Vamos a isso?

 

Comecei o ano com uma obra que já queria ler há anos: O Ano da Morte de Ricardo Reis. Primeiro, para dar outra oportunidade a Saramago (depois do Memorial do Convento) e segundo porque a premissa junta Fernando Pessoa e o heterónimo Ricardo Reis, logo, tinha tudo para ser bom. Pois bem, é de facto um bom livro, com excelentes caracterizações, ideias fervilhantes e descrições bem reais da Lisboa de Pessoa. Ainda assim, sou adepta do princípio "menos é mais", e foi só por isso que o livro não entrou para a lista dos meus preferidos.

 

morte ricardo reis_saramago copy.pngO Ano da Morte de Ricardo Reis. José Saramago. (2017) Porto Editora.

 

 

 

 

Começar por Isabel Allende

M., 17.11.17

 

Conheci os livros de Isabel Allende por volta dos 15 anos, quando li a trilogia As Memórias da Águia e do Jaguar, composta por três obras encantadoras: A Cidade dos Deuses SelvagensO Reino do Dragão de OuroO Bosque dos Pigmeus. São histórias de fantasia e aventura, que nos transportam até diferentes cantos do Mundo (América do Sul, Ásia e África). É admirável a forma como a autora aborda desde aspetos culturais a questões sociais e ambientais, sem perder a atmosfera mágica a que nos habitua dede o início. Pela primeira vez, tive a sensação de viajar através de um livro e isso é algo que não se esquece. Desde esse momento, fiquei com um carinho especial por esta autora, por isso escolho-a para inaugurar aqui as minhas opiniões literárias.

 

Recentemente, li O Amante Japonês e posso dizer que foi novamente um prazer. 

 

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